sexta-feira, 16 de setembro de 2011

REVENDO O FILME

REVENDO O FILME

Um amigo me procura e diz que tem vontade de voltar pra alguém. Que toda vez que perde uma pessoa (não no sentido de falecimento físico)...mas toda vez que alguém vai embora fica uma sensação estranha: por que só valorizamos quando perdemos?

Só que a carência e a distância fazem com que só pensemos nas qualidades daquela pessoa, nos momentos bons, nas risadas, nos carinhos, nos passeios... Nunca lembramos das brigas, das ceninhas de ciúme, dos desentendimentos...

Mário Quintana certa vez escreveu algo que considero lapidar: “O sumo bem só no ideal perdura. Quanta vez a vida nos revela que a ausência da amada criatura é bem melhor do que a presença dela.”

A distância, o tempo, a saudade, tudo isso faz com que o ser desejado seja mais amado, mais lindo, mais sexy, mais alto, mais magro, mais compreensivo... só por que distante? Só por que ausente? Talvez, mas também porque aventurar-se, buscar outro alguém é muito trabalhoso, arriscado...

Por diversas vezes nos vemos voltando pra alguém que já fez parte de nossa vida por pura acomodação. Já conhecemos as manias, já conhecemos os defeitos, já sabemos das poucas qualidades... tudo é previsível e seguro... mas também, triste. Estamos colocando em jogo não apenas a nossa felicidade... o outro também está perdendo o seu tempo, a sua vida na ‘sina insana de um amor sem frutos’... Nossa, outro fragmento de poesia pinçado de um passado neuronal que um dia me pertenceu... A volta é sempre, no início, nos primeiros dias, uma coisa boa. A sensação de que tudo pode dar certo, que as arestas podem ser desgastadas, acaba por nos iludir e acreditarmos que ‘agora é pra valer e pra sempre’...

Pra valer e pra sempre???? Até recomeçarem as brigas, as implicâncias, as vetações, os ciúmes infundados, as desatenções, os egoísmos...

O mundo tem milhões de pessoas que também estão à procura... Há milhões de pessoas que querem alguém pra ‘chamarem de seu (ou sua)’, mesmo a gente sabendo que ninguém é de ninguém...

Encontrar alguém não é tarefa fácil. Não podemos buscar o que nos falta, temos que buscar o que mais se aproxima de nós... Ninguém completa ninguém, ninguém é muleta pra ninguém... temos que buscar a pessoa que nos arrebata, que nos considera, que nos ama mesmo que tenhamos defeitos (todo mundo tem)... Temos de saber ver os defeitos do outro como particularidades, como algo a mais, afinal, a graça está justamente nas diferenças.

As singularidades, a diversidade só enriquece e nos testa. Um mundo com pessoas todas iguais? Deus nos livre... O ser humano evolui no momento em que busca se relacionar e encontrar uma pessoa que almeje o mesmo.

Rever o filme??? Asseguro que só se for muito bom, e só mesmo um DVD. Porque ninguém muda... somente se fizer um transplante cerebral e, mesmo assim, a embalagem será a mesma e pode nos trazer péssimas lembranças.

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